domingo, 20 de maio de 2012

Sarney queima documentos e estoca livros - Elio Gaspari

    O Tribunal Regional do Trabalho do Espírito Santo entregou 49 toneladas de processos para serem destruídos. Eram cerca de 60 mil ações judiciais. Nesse papelório que é visto como trambolho, estava a história dos trabalhadores que foram à Justiça buscar seus direitos. (Em São Paulo, queimaram o processo de um pernambucano que perdeu um dedo numa prensa. Era o dedo de Lula.)
    A piromania do Judiciário teve um defensor no ministro Cezar Peluso e o STJ vai pelo mesmo caminho, determinando a destruição de processos com mais de cinco anos de arquivo. A queima dos arquivos judiciais deriva de uma lei do Congresso sancionada pelo então presidente José Sarney. Se essa tendência não for revertida, a história do andar de baixo virará apara de papel.
    Curiosamente, o mesmo Sarney que sancionou a destruição da memória de documentos apresentou um projeto determinando que todas as editoras do país sejam obrigadas a mandar um exemplar de qualquer livro publicado para todas as bibliotecas estaduais e "instituições equivalentes dos países de língua portuguesa". Beleza. No Brasil são publicados cerca de 50 mil títulos por ano. As bibliotecas estaduais estão à míngua. Para catalogar esse estoque de livros, seriam necessários mais cem bibliotecários em cada uma delas e em dez anos, com 500 mil novos livros, cada uma deveria construir mil metros quadrados, para guardar volumes muitas vezes inúteis. Quando isso acontecer, Sarney poderá apresentar um novo projeto, determinando a queima dos livros que não foram catalogados.
De O Globo