sábado, 25 de agosto de 2012

O atual processo político - Editorial do jornal Vias de Fato

 
     Em 2010, na disputa pelo governo do Maranhão, o jornal Vias de Fato não apoiou nenhuma candidatura. Na ocasião, deixamos clara nossa opção de esquerda e, por isso mesmo, nossa oposição intransigente ao projeto de “reeleição” de Roseana. Em São Luís, nesta eleição de 2012 (assim como em 2010), não existe apenas uma opção de esquerda ou de oposição. Enquanto a direita - com João Castelo e os candidatos de Sarney - continua muito bem representada. Diante deste quadro, seguiremos sem apoiar uma candidatura.
    É comum jornais ou revistas declararem votos num candidato. Nossa opção atual se dá por conta das circunstâncias e não por achar que uma publicação não possa apoiar quem quer que seja. Um apoio, dentro de um ambiente democrático, é natural. Porém, no caso de São Luís, nossa decisão, nesta conjuntura, é de não apoiar um nome ou partido. Seguiremos ao lado da agenda e das demandas da sociedade, incluindo aí o dramático problema da falta de água e de tratamento de esgoto, da ausência de mobilidade urbana e de um transporte público de qualidade, por uma educação e saúde decentes, na defesa permanente dos direitos humanos e do meio ambiente, da luta por moradia digna e regularização fundiária, contra os despejos, entre outras questões graves e urgentes.
    Como dissemos em nossa edição de setembro de 2011, São Luís fará 400 anos, com mil problemas e alguns presentes de grego, caso da termelétrica a carvão de Eike Batista e de uma avenida (a Via Expressa) feita para aproximar shoppings, passando por cima de uma imensa área verde e de uma importante comunidade tradicional, o Vinhais Velho. Não estamos omissos! Diante destes problemas nossa posição é clara! Estamos ao lado da luta referente a questões que foram tratadas por nós ao longo de quase três anos e que seguirão conosco, não apenas nesta campanha, mas, também, depois dela. Até porque, a ação cotidiana do Vias de Fato não está - nem nunca esteve - associada à mera (e às vezes ridícula) cata de eleitores...
    Queremos também deixar claro que reconhecemos a importância do processo eleitoral. Antes de tudo, o voto é uma conquista da sociedade brasileira. Num passado recente, muitos morreram, foram perseguidos ou torturados, para que hoje se possa votar. Não estamos, nem de longe, pregando voto nulo ou coisa que o valha. Mas, ao falar na conjuntura e seus problemas, é da nossa responsabilidade dizer que, hoje, as eleições no Brasil estão muito longe de dar todas as respostas políticas que o nosso país precisa.
    No Maranhão, então, a situação é ainda pior. Aqui, o nosso processo eleitoral está degenerado! O financiamento de campanha é ainda mais criminoso, a esquerda segue espremida, dividida e dialogando pouco, o oportunismo não escolhe partido, a compra de votos se sofistica a cada pleito e o abuso de poder econômico já virou regra. Mensalão, por essas bandas, é brincadeira de criança. No caso de São Luís, não é a toa que as primeiras pesquisas têm dado João Castelo em primeiro lugar, apesar da rejeição e de uma administração, evidentemente, muito ruim. Neste cenário ultra-atrasado, em uma terra controlada por máfia, a intenção de votos é proporcional ao dinheiro gasto na campanha, sem falar nas fraudes e dos vários golpes pela via judiciária.
    Então, caros leitores, sem descartar (ou desrespeitar) as organizações partidárias e as diferentes opções de muitos e valorosos companheiros e companheiras, consideramos que, neste Maranhão-2012, diante dessa realidade, é fundamental continuar resistindo e denunciando (sem meias palavras) o crime organizado e estimulando a sociedade a participar do processo político. Estas são nossas prioridades! Resistir, abrir o verbo contra os principais opressores deste estado e incentivar esta participação, para além do voto, estimular o protagonismo e o diálogo das organizações populares (urbanas e rurais), de diferentes entidades da sociedade civil, do meio universitário, dos professores, dos estudantes, do meio cultural e sindical.
    Aqui, mais do que qualquer outro lugar do Brasil, é impossível falar em mudança sem organização, mobilização, educação popular e um profundo (profundo!) debate político. Sem isso, não teremos saída, muito menos um arremedo de democracia. Sem isso, cada eleição seguirá se repetindo como farsa! Com o voto de opinião perdendo cada vez mais espaço e os agiotas, os quadrilheiros e os tribunais, com mais força no jogo, do que qualquer organização social e/ou política.
*Editorial da 35º edição do jornal Vias de Fato (agosto de 2012).
Publicado no www.viasdefato.jor.br