quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Sonora Brasil traz batuques dos quilombos do Norte e Nordeste para São Luís

   
Tamboureiros e cantadeiras/sambeiras do samba de cacete da Vacaria (PA)
     Percussionistas de samba do cacete do quilombo da Vacaria, zona rural da cidade de Cametá, no Pará, fazem única apresentação nesta quarta-feira,14, no Teatro Alcione Nazareth na programação do Sonora Brasil do Sesc. A versão 2013 do projeto teve início com apresentação do grupo Raízes do Bolão, do Amapá, na terça-feira,13, no mesmo espaço. Liderado pelo mestre Pedro Bolão, o grupo do quilombo do Cariaú se apresentou para uma plateia atenta e numerosa para o espaço, diferente das outras versões do Sonoro por aqui. Na plateia, os visitantes foram prestigiados por caixeiras que já estiveram percorreram outros estados pelo Sonora. 
    As reclamações sobre a maneira formal e extremamente burocrática como o Sesc divulga sua programação continuam. Por exemplo, o percussionista e compositor Erivaldo Gomes não teve conhecimento com antecedência. Com a devida humildade o Sesc poderia usar um mailing para convocar os músicos, artista e outros com interesse direto no assunto. "Nâo fiquei sabendo", justificou o músico maranhense. Ao Sesc a explicação convincente, no mínimo é aquela: "Mas saiu até na Mirante". Atingir o comerciário então é algo fora de cogitação. "Eles não se interessam", fica mais fácil afirmar. Obtusidade puro sangue.
    O excesso de burocracia do Sesc faz com a apresentadora derrame agradecimentos à presença dos diretores do órgão. Não seria anormal seria a ausência no evento. Mas, não é essa a regra por aqui. Ainda mais, diante do entendimento de que o mando é dadivoso e, quase sempre, sempre nepótico ou pautado pelas relações de amizade e afinidades afetivas. Meritória é termo remoto facilmente trocado por algo mais meretriz.
    Sem microfone a vocalista e dançarina Esmeraldina dos Santos quis defender suas raízes. Teve dificuldade diante da barulheira do ar condicionado do teatro Alcione Nazaré, casa que já passou por enes reformas e parece cada dia perecer diante dos olhos da platéia.
    Muitas palavras então de dona Esmeraldina sobre o marabaixo e batucada se perderam no ar. Como lastro o Sesc bem que poderia bancar um registro sonoro para divulgar de forma consistente o trabalho, propiciando até mesmo o intercâmbio frutífero. Infelizmente o órgão do Sistema S quando se embrenha para o Norte e Nordeste se alisa.
A ideia parece introjetada no corpo funcional que estranho reage a questinamento do tipo.
    Fiz a um "colaborador" (eufemismo utilizado pelo capitalismo para chamar os explorados) com a camisa azul do Sesc. "Eles trouxeram algum registro sonoro, um CD ou DVD?", lancei, pensando em obter uma resposta reconfortante mesmo que sendo um não embutido. Mas, a reação do colaborador foi como se tivesse perguntado: "Eles trouxeram alguma droga nativa do Amapá que não seja o Sarney ou algum marimbondo de fogo?".
Mesmo com todos os percalços, vale a pena ouvir o Sonora Brasil.
    O grupo que se apresenta hoje é formado por moradores da zona rural da cidade de Cametá que vivem da produção agrícola. É formado por tamboureiros e cantadeiras, também chamadas de sambeiras, que com seus cânticos acompanham os dois "tambouros" e mais um percussionista que toca os cacetes. A liderança é do mestre Benedito Moía. Participam ainda Ângela Meireles, Maria de Jesus, Manoel Maria, Maria das Graças, Marineu Cruz, Raimunda Moía e Nair dos Prazeres.