terça-feira, 13 de maio de 2014

José Chagas (1924-1914) na lavra de Luiz Augusto Cassas

    José Francisco das Chagas, paraibano de Piancó, nasceu a 29 de outubro de 1924. Depois de breve estada em Teresina, fixou-se definitivamente no Maranhão, terra que fez sua por opção consciente e irrenunciável. Hoje, decorridos mais de trinta anos daquele dia dos anos quarenta em que, como afirmou em seu discurso de posse na Academia Maranhense de Letras, chegou a São Luís "puxando a cachorra da poesia", já são fundas as raízes culturais e afetivas que plantou no chão desta sua segunda e verdadeira terra.
    No Maranhão e para o Maranhão construiu sua obra literária, sem dúvida alguma das mais importantes entre nós nos últimas tempos. Autor de milhares de crônicas que são, na maioria, dedicadas a São Luís, José Chagas já não é, apenas, o cronista da cidade, mas um dos maiores poetas que a cantaram em qualquer tempo.
    Depois de celebrar em prosa e verso a cidade que de fato e de direito o tem como filho, o poeta de Maré/memória fez, nos quarenta magistrais sonetos de que se compõe Colégio do vento, a comovida visitação sentimental aos pagos de sua infância, onde revive sua vida de menino pobre, lutando pela sobrevivência no amanho da terra seca e na esperança das chuvas que nem sempre vinham.
    Desse livro é a confissão: "Muito cedo plantei o arroz real,/e o arroz do sonho era o que mais crescia;"(Soneto 13).
Vale a pena transcrever aqui o soneto 35, de Colégio do vento:
santana dos Garrotes, meu distrito,
meu chão de sonhos, onde meu pai dorme
num silêncio de mundo tão restrito,
que mal contém esse cansaço enorme
de homem que fez de seu trabalho um rito,
religião a dar-bos paz, conforme
fosse o nosso cometimento aflito
capaz de nos levar a alma conforme
e se desesperar ante o infinito,
pois eu bem lembro o que o meu pai de cor
me dizia de um, mundo mais bonito,
e uma razão de luta e de suor
me conduz a este chão onde, contrito,
não choro, canto, e ele me escuta e dorme.
    Quando, sob a égide de Bandeira Tribuzi grande poeta e grande amigo da Cidade de São Luís do Maranhão, a SURCAP lançou, em caráter permanente, um concurso destinado a premiar os melhores poemas sobre São Luís, José Chagas inscreveu seu poema-rio e, merecidamente, conquistou a láurea. É sumamente gratificante que assim tenha iniciado o concurso a sua caminhada vitoriosa. Aqui estão Os canhões do silêncio para demonstrar a grandeza do poeta e do amigo do burgo de La Ravardière.
Luiz Augusto Cassas de Araújo
Diretor-presidente da SURCAP