terça-feira, 10 de junho de 2014

Cena Urbana - Bolsa Família, a prioridade no debate sem cidadania

    "Essa história de Bolsa Família serve só para incentivar as pessoas a não fazerem nada. Você vai no interior, tá todo mundo sem trabalhar. Ficam esperando só chegar o dia de receber o dinheiro", diz a mulher à amiga, de recém-contato na fila do caixa eletrônica. De óculos escuros, se enquadra no perfil socioeconômico da classe média emergente do Brasil idem.
    "Dizer que serve para tirar as pessoas da pobreza é conversa fiada. Serviu para aumentar o número de meninos", emenda a conversa a amiga.
    As duas seguem um diálogo em tom maneiro sobre as possibilidades eleitorais de Dilma e Aécio. Comparam Aécio ao ex-governador do Pernambuco, Eduardo Campos, não muito conhecido dos eleitores, mas um homem de família, concluem. Já Aécio?!, nem tanto. 
    Ambas em pé, movimentam-se em diagonais curtas. Estão mais próximas da máquina que o recomendável à privacidade do usuário. Fitam-se durante a conversa. Em um ou outro momento dão-se as costas, segundo a ordem da fila.
    Discreta, uma terceira mulher se coloca atrás das duas protegidas por um raio de algo em torno de meio metro, demarcado pela bolsa à tiracolo e o braço no formato chaleira. Está grávida. Pelo posição da barrica empinada prestes a parir. 
    Na conversa intermitente, as mulheres à frente da grávida são magnetizadas pela máquina. Daí em diante à chegada da grávida os movimentos de volteios passaram a girar em um raio de 180 graus.
    Chega à vez da primeira. Ela se concentra na operação no caixa. Findo o serviço eletrônico, volta-se com a cabeça baixa, olhos postos em direção à bolsa, destino da carteira porta-cédulas. Se despede da "amiga" sorrateira. Passa por entre a fila esgueirando-se.
    A segunda, a da ressalva ao comportamento conjugal de Aécio, repete os movimentos da anterior, com alterações mínimas. De passagem pela grávida, tem o olhar evasivo à prioridade apertando a bolsa contra si.