quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O Povo assedia jornalistas que protestaram contra reajuste de R$ 4,26

O Povo está constrangendo os jornalistas que participaram do ato "Reajuste Pão com Ovo", realizado na porta da empresa pelo Sindjorce em protesto contra o "aumento" salarial de R$ 4,26 por dia oferecido pelos patrões. A reclamação partiu de colegas da base chamados a atenção pela chefia após participarem da mobilização que paralisou a redação do jornal mais antigo do Estado, na tarde de 4 de fevereiro.
O principal alvo são os profissionais de confiança da empresa, entre eles editores que desceram do primeiro andar do prédio e ocuparam a calçada do jornal, onde ocorria uma manifestação bem humorada da Campanha Salarial dos "Lampadinhas", mascotes que simbolizam o trabalho intelectual dos jornalistas.
"Disseram àqueles que têm possibilidade de ascensão dentro da empresa que não é 'recomendável' participar de movimentos contra o jornal ", revelou um jornalista. "Como pode o jornal fazer isso?", desabafou entre colegas um editor que participou da mobilização.
Movimentos contra o jornal são contraindicados
Na prática, prepostos do O Povo estão fazendo uso explícito da posição hierárquica que ocupam para assediar moralmente os jornalistas a não participarem dos eventos do sindicato da categoria. A empresa se aproveita da condição de empregadora para tentar inibir a presença dos trabalhadores na ação sindical. Na condição de superiores, os chefes encabeçam medidas para inibir a presença de jornalistas em mobilizações do Sindjorce.
"O discurso da democracia não pode ser aplicado somente aos leitores e à sociedade. Precisa ser observado no âmbito das relações de trabalho. Aoinvés de reprimir, a empresa tem a obrigação de reconhecer o direito do trabalhador e respeitar a organização coletiva dos jornalistas", afirma a presidente do Sindjorce, Samira de Castro. "Quando falamos em violência contra jornalistas, incluímos aí a exercida pelo empregador sob seus empregados, que merece o mais amplo repúdio de toda a sociedade", diz.
Sutileza no discurso do medo
"Será que podemos nos curvar, nos calar, nos sujeitar a esse tipo de pressão 'sutil' ?", questiona o secretário-geral do Sindjorce, Rafael Mesquita. Por trás da abordagem, o que existe é um discurso que busca infundir o medo nos jornalistas. "Um dos mais perversos mecanismos que se utiliza para obter um comportamento passivo dos trabalhadores é a lógica do medo", critica.
Para o diretor de Ação Sindical do Sindjorce, Evilázio Bezerra, os assédios são resultado da insatisfação do jornal com o engajamento dos jornalistas na Campanha Salarial da categoria. Nesse cenário, a direção do O Povo se dirige aos jornalistas dizendo que eles têm de "pensar na carreira, no emprego, na empresa, e quem quer isso não participa desse tipo de evento". "Um verdadeiro absurdo", resume Evilázio.
Momento de reflexão
Segundo o diretor de base, trata-se de uma clara retaliação à organização coletiva da categoria dentro da empresa. "Por trás da sutileza, da amabilidade, existe a busca de infundir a ferro e fogo nos jornalistas a passividade que o jornal espera de seus empregados. Na verdade, o jornal está pedindo aos jornalistas que sejam indiferentes à politica salarial do pão com ovo", critica Evilázio.
"Está realmente no âmbito do empregador dizer: 'não participem dos eventos do sindicato'? O que isso implica? Estão nos cobrando passividade e submissão?", pergunta a diretora de Administração e Finanças do Sindjorce, Déborah Lima.
Para ela, superiores não se dão conta da gravidade do que estão fazendo, acham que é uma conduta natural, que é o papel dos prepostos. "Precisamos refletir profundamente sobre o que isso significa e denunciar toda e qualquer tentativa de assédio moral ou prática antissindical nos locais de trabalho", concluiu.
Déborah Christina Marques F. Lima - Sindicato dos Jornalistas do estado do Ceará - deborahclima2009@gmail.com