sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Uma cidade malcuidada - Editorial ( O Estado do Maranhão - edição 12.11.2015)

    É inegável que São Luís é uma bela cidade. Não são apenas sua riqueza cultura e seus prédios históricos que evidenciam os encantos da capital maranhense. A orla é composta por pequenos paraísos, muitos dos quais se tornaram um pouco mais conhecidos após várias reportagens que O Estado publicou durante alguns sábados meses atrás. Dito isso, é fato também que, mesmo uma cidade bonita como São Luís precisa ser bem cuidada para que sua beleza aflore. Mas não é o que tem ocorrido.
    Andar pela capital maranhense é constatar em cada bairro maus tratos não apenas do poder público, mas do próprio ludovicense. Um problema recorrente na cidade é a formação de lixões, que contribuem também para a proliferação de insetos que podem causar doenças. Em suas edições, O Estado sempre tem registrado o surgimento de novos lixões em ruas da capital, tanto que a pauta tornou-se repetitiva. E como o bom jornalismo se alimenta da novidade, o registro do acúmulo de lixo a ermo acaba cedendo espaço para os factuais.
    Isso não quer dizer que o assunto não tenha a importância devida, mas, infelizmente, tornou-se trivial, e essa é uma triste constatação. Em um período no qual discussões sobre sustentabilidade e assuntos como reciclagem começam a ganhar força, é um contrassenso pensar que em uma cidade como São Luís a população ainda não se preocupa com o descarte correto do lixo. Sim, a população e não apenas o poder público.
    É bem verdade que não existem políticas públicas voltadas para a questão do lixo, que São Luís não possui ainda um plano de resíduos sólidos e que a reciclagem resume-se apenas a ações pontuais. Além disso, a coleta ainda é ineficiente e a disposição de lixeiras é precária. Ou seja, a limpeza pública da cidade ainda deixa a desejar. Mesmo assim, não são poucos os flagrantes de entulho de lixo ao lado de um contêiner, que deveria servir como o destino correto para o que não tem mais utilidade. E o que dizer de quem não tem a paciência de separar o seu lixo e aguardar para que seja levado no dia da coleta, antes de ceder ao impulso de jogá-lo na calçada da frente ou lançá-lo no terreno baldio próximo de casa como se ele não fosse mais problema seu? Mas ele é.
    É preciso tocar nesse tema: falta consciência para o ludovicense de que ele precisa fazer a sua parte, até mesmo para cobrar do poder público. Falta educação, consciência ecológica, responsabilidade, preocupação com a cidade. Falta também começar a repensar a quantidade de lixo que é produzida todos os dias. Será mesmo que tudo o que é jogado fora é lixo?
    E antes que muita gente pense que esta realidade de descartar resíduos equivocadamente está ligada necessariamente a condições econômicas e sociais, muitas vezes o lixo é lançado através das janelas de carros de luxo. Por vezes, são pessoas de posses as proprietárias dos terrenos baldios - muitos dos quais não murados - que servem de depósito de lixo. Em alguns casos, não querem se dar ao trabalho de descartar corretamente o entulho das obras de seus empreendimentos e preferem contratar alguém para dar um “jeitinho” a fazer o correto.
    São Luís é uma cidade de muitos encantos, mas ainda maltratada por seus habitantes. Portanto, antes de apontar o dedo para o seu vizinho, faça uma pergunta a si mesmo: o que você faz com o lixo que produz?