terça-feira, 24 de maio de 2016

Documentário expõe desavença de Sarney com Haroldo Tavares

   


    Sarney é ingrato com seus colaboradores. Essa é a mensagem do documentário "Haroldo - o que usou sonhar", dirigido por Luiz Fernando Baima e João Ubaldo de Morais com produção de Joaquim Hackel. O filme foi bancado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura, com patrocínio exclusivo do Mateus, e teve uma versão apresentada a um público contado nos dedos em sessão na noite de segunda-feira, 23, no Auditório Josué Montello, do UniCeuma (*). 
    O reitor da universidade dos Fecury informou que ficou impressionado com a repercussão do convite  ao seleto público. Presentes a família do cinebiografado, imortais da Academia Maranhense de Letras, amigos do imortal Joaquim Haickel como Celso Veras, Helena Barros Heluy e outros tantos do nosso belo quadro social. Quase todos admiradores de Haroldo, e, de Sarney.
    Haroldo Tavares, formado engenheiro em Minas Gerais, foi secretário de Viação e Obras Públicas no governo José Sarney (1966 - 1971). É dele a autoria dos projetos da: Ponte de São francisco, da Barragem do Bacanga e da Lagoa da Jansen, a criação da TV Educativa, o asfaltamento da BR-135 e todas as obras que Sarney costuma afirmar que fez.
    Para realizar as obras, Haroldo Tavares buscou recursos por contaal  própria junto ao Basa e instituições financeiras e ao secretariado à revelia do chefe do Executivo. Ao menos essa é a informação que o sobrinho Jaime Santana repassada.
    Jaime Santana, Benendito Buzar, Bento Moreira Lima, Américo Azevedo Neto, José Reinaldo Tavares, Benendito Pires I e Adolfo dão depoimentos generosos sobre o cinebiografado. O documentário, em versão ainda não definitiva, tem quase duas horas de duração. Um doc longa. Ilustrado por imagens da época, algumas narradas pela tronitroante voz do Canal 100 (aquele do ..que bonito é....), que personificava o jornalismo de cinema no tempo da ditadura.
    Sarney rompeu com Haroldo ou vice-versa e jamais superaram tal desavença. Tavares morreu em 2013, rompido com o ex-chefe. No final da década de 90, porém, durante o governo Roseana Sarney Haroldo Tavares no comando da Ital, fábrica de barcos de fibra, vendeu ao governo do estado um grande lote de barcos para doar às colônias de pescadores, financiados pelo BEM. Ficaram à deriva, os barcos e o projeto de fortalecimento da pesca no Maranhão.
    Apenas Bento Moreira Lima pincela a história dos barcos. Por testemunha desta aventura, ainda restam dois exemplares cingrando as águas da baía de São Marcos, diariamente na travessia entre São Luís e Alcântara. Apenas Bento Moreira Lima, também engenheiro e amigo do Sarney, pincela a história dos barcos.
    A equipe do Mavam (Museu do Áudio Visual do Maranhão) captou a última entrevista do engenheiro Haroldo Tavares.  Como prefeito, ele liberou as amarras do bumba-meu-boi, proscrito pela elite maranhense historicamente refratária a pobres e pretos, o perfil predominante da expressão maior do folclore tupiniquim. Por entusiamo dele, conta América, o boi ganhou seu primeiro registro fonográfico. (Pena que não seja mostrado o disco ou colocado um begê, um filete musical qualquer já bastava)).
    Nessa história toda, a grandeza do engenheiro está em um pequeno depoimento. Na construção do Anel Viário, ele contornou uma árvore poupando-a em detrimento a uma mansão de um bacana da época. Indagou aos empreeteiros: Quanto tempo demora para se construir uma casa deste tamanho e para termos uma árvore frondosa como esta. Venceu sua opção. Coisa que não assistimos mais na era do politicamente correto.

Capa e contra-capa do 1º LP de bumba-meu-boi


(*) O auditório do UniCeuma é exemplo concreto da formação capenga da nossa engenharia. OU então da mão de vaca dos nossos empresários. Uma pequena chuva que coincida com o evento, só apelando para o berro ou  aos decibéis das paredes de reggae para se tornar audível. Vai ver é telhado de zinco.